sexta-feira, 30 de abril de 2010
O Espetáculo Patativa do Assaré Cuidante do Semi-árido continua sendo ensaiado pela Trupe do Circo Escola de Ecocidadania
Patativa do Assaré Cuidante do Semi-árido
"O homem é o grande fazedor de desertos”
Euclides da Cunha
Patativa do Assaré descobriu a poesia na terra semi-árida e tudo que escreveu não poderia deixar de ser a fala, o sentimento do homem e da mulher, da menina e do menino vivente neste lugar: O semi-árido, sua flora, fauna, paisagens, pinturas rupestres e céus exuberantes.
O semi-árido brasileiro se estende por uma área que abrange a maior parte de todos os Estados da Região Nordeste (86,48%), a região setentrional do Estado de Minas Gerais (11,01%) e o norte do Espírito Santo (2,51%), ocupando uma área total de 974.752 Km2.
Para 25 milhões de habitantes do semi-árido brasileiro, que significado pode ter a idéia de ecossistema, de estabilidade biológica ou de contaminação ambiental, imensas massas analfabetas, cuja luta cotidiana e desigual é por sua própria sobrevivência em condições precárias e absolutamente hostis? É isto que queremos fazer com arte: um contínuo processo de alfabetização ecológica; Patativa e sua poesia foi pioneiro neste desafio.
Patativa não tem tamanho, ele ultrapassou as barreiras das medidas, pois sua história se mistura com a história da luta do homem/mulher pela terra, pelo acesso ao conhecimento que possibilitou que ele falasse de igual para doutores e governantes.
Ele emprestou sua voz ao povo do semi-árido, emprestou também sua sabedoria que sempre serviu de apelo para acabar com as desigualdades sociais e para com o cuidado com a terra, que para ele, mais que sagrada, não pode ser abandonada, como abandonados estão nossos meninos e meninas que ainda são escravos do trabalho infantil neste imenso semi-árido brasileiro.
Não dá para falar de Patativa sem rima e é esta rima solta e de bom grado que se fará presente no espetáculo Patativa do Assaré Cuidante do Semi-Árido: uma experiência de montagem de espetáculo circense baseado no teatro do oprimido de Augusto Boal, na pedagogia do oprimido de Paulo Freire e nos princípios de alfabetização ecológica de Fritjof Capra, bases teóricas do nosso circo social, onde 17 adolescentes e adultos jovens do Circo Escola de Ecocidadania vão apresentar seu primeiro espetáculo circense, depois de cinco
anos de preparação nas artes do circo, da música, do teatro, da dança, da poesia, das artes plásticas, vídeo, fotografia e nas artes da cidadania.
Por meses de construção do espetáculo, esses meninos e meninas se transformaram em operários de sonhos e de artes, pesquisando o semi-árido: sua geografia, sua história, sua política, sua sociologia, sua antropologia, sua economia e seu meio ambiente. Cada passo da montagem do espetáculo foi construído coletivamente: textos, cenário, figurino, maquiagem, idéias para a trilha sonora, catálogo, cartaz e a decisão da estréia do espetáculo de ser no dia 27 de março de 2006, em homenagem ao Dia Nacional do Circo.
A idéia de colocar Patativa no centro do picadeiro nos perseguia há muito tempo, até que fim conseguimos apoio para dar início a esta jornada: fomos um dos vencedores do Prêmio FUNARTE DE ESTÍMULO AO CIRCO 2005 e BNB Cultural 2006, razão de estarmos agora nesta peleja de fazer rir, fazer pensar, possibilitar sonhar e contribuir para transformar a realidade do semi-árido brasileiro. É para o povo do semi-árido que estamos construindo este espetáculo, na esperança de que este povo compreenda que é preciso colher chuva do semi-árido e usá-la da melhor maneira, pois não falta água, há falta de armazenamento de água. Que é preciso pressionar os governantes para contemplar nos orçamentos municipais dinheiro para recursos hídricos. Os governantes precisam mirar-se nas ONGs, que realizam silenciosamente e bravamente pequenas e exitosas intervenções no semi-árido. Esse povo precisa reaprender a cuidar da terra e convivendo com seus desafios possa construir oportunidades de terem suas vidas nas suas próprias mãos : Este desafio para nós, como o circo, é o maior espetáculo da terra. É um espetáculo em crescente montagem, em crescerte movimento.
O espetáculo Patativa do Assaré Cuidante do Semi-árido aborda a nova realidade do semi-árido e usa na fala dos narradores textos como : “Queremos falar dessa parte do Brasil de cerca de 900 mil km2, imensa porém invisível, a não ser quando a seca castiga a região e as câmeras começam a mostrar as eternas imagens de chão rachado, água turva e crianças passando fome. São imagens verdadeiras, enquanto sinais de alerta para uma situação de emergência. Mas são, também, imagens redutoras, caricaturas de um povo que é dono de uma cultura riquíssima, capaz de inspirar movimentos sociais do porte de Canudos e obras de arte de dimensão universal do clássico Grande Sertão, do escritor Guimarães Rosa, até o recente Central do Brasil, do cineasta Walter Salles.” (Declaração do semi- árido - Recife, 26 de novembro de 1999). Aí, o conteúdo do espetáculo pretende quebrar o paradigma de que a fome que mata nas secas do Nordeste alimenta a arte.
Senhoras e senhores, meninas e meninos, abram bem os ouvidos e prestem muita atenção, pois vai começar o espetáculo “Patativa do Assaré Cuidante do semi-árido, uma prova de que o circo ainda é o maior espetáculo da terra e é um instrumento de inclusão sócioambiental através da arte”.
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